segunda-feira, 22 de abril de 2013

O Manifestante e a Hipster


Fico grato aos colegas da AP, que me deram inspiração para escrever essa crônica (eu ainda tou confuso se isso é um conto). Tá show, veja:!
 
O Manifestante e a Hipster

 

Toninho Rolada, vereador da câmara municipal de São Paulo, foi avisado por sua linda esposa que alguns estudantes indignados gritavam seus brados ao levantar de cartazes engraçados contra ele e vários outros colegas no domingo da Avenida Paulista. Ligou a TV e correu por todos os canais, nenhum dava atenção aos jovens. Se for assim, tudo bem. Era a menor de suas preocupações.

Apesar de todas as boas intenções do manifestante Ricardo Sutre, quem realmente se incomodava com o protesto nervoso era Renuá, boa menina hipster de roupas arco-íris e óculos espantoso. Na travessa da Rua Augusta com a Paulista, pouco antes da manifestação passar, ela tirava fotos com seu smartphone de um cover de rua maravilindo dos Beatles, apesar de achar isso muito mainstream. Conforme os gritos do movimento se aproximavam do pequeno palco de rua, o som de "Lucy In The Sky With Diamonds" suprimia-se diante dos foras e bastas. Os músicos interromperam bruscamente sua exibição e se retiraram. Renuá apelou : "Ei! Eu tava gostando muito! Voltem!", então John Lennon respondeu: "Com essa porra de revolta, agente não toca nada!"

A hipster viu toda aquela gente de cartezes com raiva. Mesmo sabendo que não iria conseguir impedir o indignação dos manifestantes, sentiu-se impelida em tirar satisfações. Avançou seus passos furiosos na primeira pessoa que viu. Disse bem alto para ser ouvida por Sutre que estava nas margens da multidão: "Mano! Você é idiota? Isso não adianta nada! Ninguém quer saber caralho!". Sutre espantou-se tanto com vestuário quanto com a fala da garota. Abaixou o seu cartaz, apoiando-o em sua bermuda. Formulou sua réplica por alguns segundos e disse : "É claro que adianta! A corrupção tem que acabar! Hoje é o dia do basta! Toninho vai tomar Rolada!"

Os dois passaram meio quilômetro na disputa se a manifestação era efetiva ou apenas barulho juvenil. Em certo momento, ambos pararam por acaso em frente a um Starbucks. Sutre percebeu que se convencesse aquela menina despolitizada, já teria ganho o dia do basta. Deixou seu grupo seguir a avenida. Disse: "Eu só quero que você me escute, você tem que entender." Ela respondeu: "Aff! Eu não vou ficar mais aqui em pé ouvindo bobagem de playboy que se acha engajado!". Sutre viu a cafeteria exclusiva, raciocinou e convidou-a: "Espere! Eu te pago um frappucino do Starbucks! Se eu te pagar o frappucino você me escuta?"

Aquilo era um golpe baixo. Renuá adorava aquela bebida, que não era nem um pouco barata. Aceitou e alegava segura para si mesma que não estava sendo comprada por um luxuoso mix de café e sorvete. Tomaria o frappucino, escutaria, mas não ouviria o manifestante e então iria embora. No fim sairia ganhando.

Pediram as bebidas mágicas e sentaram-se no sofá verde-escuro. Trocaram os nomes e começaram novamente a discussão. O diálogo foi evoluindo aos poucos. Transcenderam para as leis, para as políticas por trás das leis, para a filosofia que fundamentavam as políticas, para a ética, para os pensadores. Só então descobriram que Sutre era estudante de direito e que Renuá estudava ciências sociais. Tornaram-se amigos e adicionaram-se no Facebook antes de se despedirem.

Para Sutre, não ficou claro se conseguiu trazer a menina para sua causa. Renuá sentiu que caiu numa armadilha e, encalhada como estava, pensou como ele era tão inteligente, bondoso e bonito à sua maneira. Conversaram mais um pouco pelo Facebook e finalmente Renuá pode declarar a si mesma que estava apaixonada pelo manifestante. Temeu que ele, perfeito assim, já tivesse amor por uma outra sortuda. Verificou seu perfil e se aliviou ao ver "solteiro". Combinou em ir com ele no show do The Cure. Um dia antes, verificou novamente o perfil de Sutre. Desiludiu-se como se tivesse tomado um tiro ao ver "Interessado em: Homens". Inteligente, bondoso, bonito e homem, só mesmo sendo gay.


 

 

By Kinder


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