sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Zugota! Synth Music: Henry Rollins, um Audiófilo e seu impressionante sistema de som.

Eis uma declaração feita por Henry Rollins, um famoso audiófilo. É um ótimo ponto de partida para você que nunca ligou para qualidade de som.
E esclarecendo, Audiófilo não é um molestador de música. =P


“Eu tive bastante sorte por ter sido criado em um ambiente onde música de vários tipos era tocada o tempo todo. Eu morava com minha mãe em apartamentos pequenos em Washington, DC, nos anos 60 e 70, e na maior parte do tempo, tinha música rolando. Chopin, Wagner, Beethoven, Coltrane, Miles, Sonny Rollins, Streisand, Baez, Dylan, Miriam Makeba – até mesmo Doors, Hendrix e Janis Joplin.
Nós íamos até uma loja de discos perto de Dupont Circle com frequência. Eu não sei como minha mãe ficava sabendo de novos discos, mas ela parecia sempre estar pegando algo pra ouvir. Eu tinha um toca-discos em meu quarto e ouvia a tudo desde discos de criança até Strauss, dos Beatles até uma cópia de ‘Hot Buttered Soul’ de Isaac Hayes que, de algum modo acabou lá.
Por muitos anos, eu nunca me dei conta da qualidade do som. Eu ouvia à música, e se eu pudesse ouví-la, era bom o suficiente para mim. Você deve entender que isso foi muito tempo atrás – quando você é jovem e trabalhando para ganhar salário mínimo, áudio hi-end pode não estar no topo de suas prioridades. Eu também sei que há muitos fanáticos por hi-fi lendo isso nesse momento que ralaram sem parar em vários empregos, em condições saídas de um romance de [Charles] Dickens, com uma determinação única de comprar aquelas caixas – e por isso, eu vos saúdo.
Naquela época, eu estava comprando discos com todo e qualquer dinheiro extra que eu tivesse: tocá-los não era tão importante quanto comprá-los. Eu não tenho arrependimentos daquele tempo. Muitos dos discos que eu comprei por alguns dólares então eu vejo à venda no Ebay e em outros lugares por quantias astronômicas. Eu fico feliz de sempre ter ido atrás dos discos.
Ao longo dos anos 80 e no começo dos anos 90 eu só possuía os equipamentos de som mais rudimentares, e isso se eu tivesse algum. Aqueles foram dias magros, ainda que agitados para mim. Eu estava, na maior parte do tempo, na estrada excursionando, ou compondo, ou gravando. Eu tinha equipamento acumulado de aqui e dali. Mais uma vez, se eu pudesse escutar aos discos, eu achava que estava tudo bem.
Isso começou a mudar quando eu comecei a passar mais tempo no estúdio e ouvindo material num par gigantesco de alto-falantes Altec Lansing que estavam num estúdio no qual trabalhávamos muito. Eu comecei a pensar em o quão ótimo seria ter algo como aquilo em minha sala. Naqueles dias eu nem tinha uma sala, mas eu sonhava acordado com um belo ambiente para audição.
Falantes Altec Lansing, revestidos com cerâmica.
Meus colegas de banda e eu comprávamos a maioria de nosso equipamento em um lugar chamado Russo Music Center, em Trenton, Nova Jérsei. Ainda está lá. Russo era o pit stop de nossas infindáveis voltas ao redor do mundo. Nosso cara lá era Dan Brewer. Ele e eu tínhamos uma piada recorrente sobre caso eu algum dia fizesse algum dinheiro, eu ligaria para ele e ele me arrumaria um robusto equipamento de som.
Em 1991, eu recebi um pequeno adiantamento e liguei para Dan. Eu disse a ele que eu tinha alguns fundos para entrar em ação. Eu acabei com um sistema muito bom – talvez não o melhor, sonicamente falando, mas ele me durou muitos anos e mandava muito bem: um par de falantes Tannoy de 12 polegadas com um subwoofer de 18 polegadas, um pré-amplificador Carver parafusado ao rack, e um crossover Rane. Não riam – eu disse que não era algo de audiófilo. Para mim, era mais do que eu jamais tinha pensado em ter.
Par de falantes Tannoy de 12"
Pré-amplificador Carver
Cerca de 13 anos atrás eu comecei a fazer o upgrade. Eu subi de maneira constante com grande entusiasmo à medida que ia descobrindo o que era possível. Como você sabe, uma vez que você tenha ouvido um sistema verdadeiramente bem-elaborado e equilibrado, você compara todas as experiências auditivas àquela.
Houveram muitos daqueles momentos parecidos com pular na água trincando de gelada quando eu descobri quanto alguém chega a pagar por um cabo. Se os varejistas de produtos para audiófilos ganhassem um dólar para cada vez que alguém olhou para um cabo na mão deles como se fosse uma [cobra] Mamba preta e perguntaram, enquanto o sangue some de seus rostos que agora são uma máscara de horror e descrença, ‘Quanto você disse que isso custa?!’ Tinha muito disso.
Eu tenho cinco sistemas em minha casa. O que eu mais passo tempo em frente é talvez amador para pesos-pesados do hi-fi como vocês, mas eu gosto muito dele: alto-falantes Wilson Audio Sophia 3s, amplificadores e pré-amplificadores MCIntosh, um toca-discos Rega Planar 3, e um CD Player Rega Valve Isis. No fim de 2012, esse sistema vai se mudar para uma sala diferente, e Brian da Brooks Berdan Ltd., em Monróvia, Califórnia, virá com sua enorme equipe e vamos começar tudo de novo.
Falantes Wilson Audio Sophia 3s
Pré-amplificador MCIntosh
Amplificador MCIntosh
Toca-discos Rega Planar 3
CD Player Rega Valve Isis
Okay, essa foi a parte autobiográfica. Agora, eis a filosófica.
Por que gastar tanto tempo e dinheiro para se obter o máximo em reprodução fonográfica? Para mim é simples, talvez brutalmente simples: a vida é curta, e a música é o maior feito do homem. Michelangelo, Picasso, Einstein foram todos incomensuravelmente brilhantes, mas eu chutaria qualquer um deles do meio do meu sofá quando eu colocasse essa cópia prístina de ‘Doremi Fasol Latido’ do Hawkwind que eu consegui alguns meses atrás. Tão logo aquela música comece, cada dólar torna-se bem gasto, o tempo torna-se precioso, e não há outro lugar que eu prefira estar.
Ouvir música é talvez a maior e mais profunda fonte de alegria que eu já conheci. Tem sido dessa maneira desde que eu era um adolescente. Eu moro nessa casa com mais de 30 anos de acúmulo de todas as partes do mundo: música, pôsteres, panfletos, set lists, kits de divulgação, fotos, etc. Todos os discos e as pessoas neles são membros de família existenciais. Eu por muitas vezes estou na estrada por longos períodos de tempo: África, Oriente Médio, Ásia Central e Sudeste, Europa, etc. No táxi de volta pra casa, eu já estou pensando no que vou ouvir naquela noite.
Essas confissões com certeza pedem por críticas, e talvez análise, eu sei. Seria difícil pra alguém pensar se a obsessão com playback otimizado poderia ser visto como uma carroça puxando um cavalo musical – o que quer dizer que alguém está mais interessado no mecanismo do que na música em si.
Pra isso eu digo, poupem-me de seu cinismo. Quando você pensa no que alguns artistas sacrificaram para lançar essa música, as modas contra as quais eles lutaram, todas aquelas noites no meio do nada, levando isso pro palco, que sofrimento e azares incríveis eles encontraram por diversas ocasiões, apenas porque eles estavam cheios de um talento irrepreensível e a coragem para dividir aquilo com o mundo, o mínimo que você pode fazer além de comprar o disco deles é ter o respeito de dar à música deles os melhores meios possíveis para preencher o ar. Sintam-se livres para usar esse argumento quando quiserem.
A Alta Fidelidade é como qualquer outro interesse rarefeito. Se lhe encanta, então se permita o encanto; se não, siga em outra direção. Eu não desperdiço tempo tentando converter ninguém para padrões mais altos de áudio. Eles não sabem o que estão perdendo, mas cada um na sua. Felizmente, meu empresário e eu somos ambos audiófilos e maníacos por colecionar discos. Nós viajamos o mundo e passamos incontáveis horas no assunto.
Bob Ludwig, manja nada.
As pessoas podem vomitar qualquer ofensa sobre o esnobismo que elas acham que os audiófilos trazem consigo. Deixe que elas bebam seus vinhos de caixas longa vida. O som da minha cópia de ‘Houses of the Holy’ do Led Zeppelin – prensada a partir do master por [aclamado engenheiro de áudio] Bob Ludwig saindo do meu sistema corta o desprezo deles tal como a lâmina katana de Toshiro Mifune!”
O ator japonês Toshiro Mifune com uma espada katana
Além de audiófilo, Henry Rollins é um cantor, compositor, poeta, palestrante, escritor, editor, ator e disc-jóquei de rádio.

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